terça-feira, 21 de julho de 2009

Códice Sinaítico (texto revisado)
Vez em quando algum órgão da imprensa publica uma reportagem de assunto já há muito conhecido e o tom jornalístico é como se fosse um furo de reportagem e passa a idéia ao público, menos avisado, que se trata de algo recente. Ainda mais, como em muitos casos o assunto não é do domínio do jornalista, a matéria não fica clara para o público e passa a ser divulgada de maneira distorcida. Haja vista a matéria divulgada sobre o Códice Sinaítico, já conhecido e estudado desde o final do século XIX, amplamente estudado pela crítica textual e usado nas versões modernas da Bíblia, especialmente no Novo Testamento. O público mal informado tece vários tipos de comentários mostrando o malintendido. Por ex: "agora os incrédulos (a respeito das Escrituras) serão calados". Este comentário afirma duas coisas: 1) o texto sinaítico é uma prova incontestável da validade das Escrituras para o crente se vangloriar;2) que o assunto é uma novidade, no uso da palavra "agora". Uma pessoa espírita comenta: "os kardecista já sabiam disto há muito tempo", como quem diz que os que se vangloriam o estão fazendo com um século de atraso.
Outro ponto que fica mal entendido é pensar que o Sinático, que segundo eruditos é da primeira metade do século IV (300 a 350 d.C.), seja o manuscrito mais antigo do Novo Testamento ou da Bíblia. Talvez seja o manuscrito mais antigo do Novo Testamento completo; pois há muitos manuscritos do II e III séculos, mas que não contêm o N.T. completo; alguns são de apenas algumas páginas de papiro ou pergaminho, como é o caso de um manuscrito codificado como P52. Ele tem um tamanho aproximado de 6,5 x 8,5 cm, contendo 5 versos do Evangelho de João, de um lado os versos 18.31-33 e do outro os versos 18.27,38. Este documento é o mais antigo conhecido do N.T. e data de cerca de 125 d.C. Estes documentos, inclusive o Sinaítico, são escritos no Grego Koiné, língua franca nos primeiros séculos do cristianismo.
O Códice Sinático foi "descoberto" em meados do século XIX no mosteiro Santa Catarina, da Igreja Ortodoxa Grega, na península do Sinai. Seu descobridor foi o erudito Von Tischendorf, professor em Leipzig que viajava a serviço do Rei Augusto da Saxônia em busca de manuscritos. A primeira vez que esteve no convento tomou conhecimento da existência de documentos antigos da Septuaginta (versão do A.T. para o grego. de antes de Cristo). Em outra visita tomou conhecimento do documento que depois se chamou Códice Sinaítico. Depois de tentativas com os monges, conseguiu que o documento fosse doado ao Czar russo, grande protetor da Igreja Ortodoxa Grega. O documento foi levado para a Biblioteca Imperial de S. Petersburgo e o Czar deu uma generosa oferta de 7.000 rubros para o convento do Monte Sinai e 2.000 rubros para o convento do Monte Tabor. Em 1933 o governo comunista da Rússia vendeu o documento por 100.000 libras esterlinas para o Museu Britânico, onde permanece.
Há outros dois documentos "irmãos" do Sinaítico: trata-se do Vaticano que veio ao conhecimento público depois do Sinaítico mas já constava no catálogo da Biblioteca do Vaticano em 1481. São muitos parecidos, com pouca variação textual. Todavia, no documento Vaticano faltam os seguintes textos: Hebreus 9.15-25; 1ª e 2ª Cartas a Timóteo, Tito, Filemon e Apocalípse. Outro documento parecido com o Sinaítico é o Códice Alexandrino, mas considerado de qualidade inferior pelos experts. Há um concenso que os três documentos tiveram origem num texto tronco comum que circulava no Egito no II século. Convém salientar que o Egito e Norte da África abrigou grandes centros cristãos. Alexandria no Norte do Egito tinha a maior biblioteca do mundo e lá no II século funcionou o primeiro "Seminário" de que se tem conhecimento. Orígines, um dos primeiros pais da igreja, foi nomeado em 203 d.C. como diretor dessa Escola Catequética.
Interessante ainda é que Orígines citou tanto os textos que hoje compõem o N.T., que só reunindo os textos citados por ele das cartas apostólicas e evangelhos é quase possível montar todo o Novo Testamento.
Bibliografia Básica:
1)Crítica Textual do Novo Testamento, Wilson Paroschi, Soc.Rel.Edições Vida Nova,SP
2)O Novo Testamento, Cânon, Língua e Texto, B.P.Bitencourt, JUERP/ASTE, SP, 1984.
3)Exegese do Novo Testamento, Uwe Wegner, Ed. Sinodal e Paulus, S.Leopoldo, 1998.

domingo, 5 de julho de 2009

PESQUISA FRACASSADA

A ONU resolveu fazer uma pesquisa em todo o mundo. Enviou uma carta para o representante de cada país, solicitando a opinião deles, sobre o seguinte tema:

"Por favor, diga honestamente, qual é a sua opiniao sobre a escassez de alimentos no resto do mundo"

A pesquisa foi um grande frasso! Sabe porquê?
Nenhum dos países europeus entendeu o que era "escassez";
Os africanos... não sabiam o que era "alimentos";
Os cubanos estranharam e pediram maiores explicações sobre o que era "opinião";
Os argentinos desconheciam o significado de "por favor";
Os norte-americanos nem imaginavam o que significava "resto do mundo";
O congresso brasileiro está, até agora, debatendo o que é: "honestamente"!

(a pessoa que me passou o texto acima não me deu a fonte)

sábado, 4 de julho de 2009

MOLTMANN NO BRASIL
Apparecido Maglio
Jürgen Moltmann foi um dos teólogos que mais influenciaram a teologia na segunda metade do século XX, com sua “Teologia da Esperança”[1] e continua um dos expoentes teológicos que, ainda neste século XXI, atrai estudiosos protestantes e católicos. Esteve, nos dias 27-31 de outubro, visitando o Brasil, passando pelo Rio de Janeiro e São Paulo. Na Universidade Metodista em São Bernardo do Campo fez conferências, recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” e lançou um novo livro. Sua adesão ao cristianismo se deu quando era prisioneiro dos ingleses na segunda guerra mundial. Nesse mundo de sofrimento e pela tristeza das conseqüências da guerra, principalmente quando soube do absurdo que seu governo alemão praticava nos campos de concentração, estava deprimido e desesperançado. Lendo a Bíblia que recebera de um capelão inglês, foi tocado ao ler o Salmo 39. Depois lendo no evangelho de Marcos as palavras de Jesus na Cruz “Deus meu por que me desamparaste?” Ele testemunha: “naquele instante e naquele lugar, no escuro buraco de minha alma, Cristo me achou”[2]. A partir de sua experiência de sofrimento de guerra e de prisioneiro como também na experiência com outros prisioneiros, Moltmann viu quanto vale a esperança na vida humana. Começou a estudar teologia. Quando volta para seu país continua seus estudos teológicos torna-se pastor e professor de teologia.
Visitou várias vezes a América Latina, o Brasil em 1977. Sua obra inspirou Rubens Alves que já vinha desenvolvendo nos Estados Unidos seu trabalho de doutorado, “A Teologia da Esperança Humana” que originalmente chamava de “Teologia da Libertação”, usando pela primeira vez este título antes dos teólogos da libertação. A teologia da libertação pode ser considerada um desdobramento da obra de Moltmann. Em todo caso, depois de mais de cinco décadas de “Teologia da Esperança” havia muita ansiedade para ouvir o seu autor, agora com 82 anos, o que tinha a dizer sobre a esperança. Não decepcionou. Continuou falando do valor da esperança na vida cristã: “Com o futuro de Cristo, queremos dizer um futuro que já se torna presente, sem, todavia, deixar de ser futuro”;[3] “Quando morrermos, sabemos que do outro lado da margem do rio está Jesus. Ele nos espera para a festa da vida eterna.”[4]
A teologia da esperança tem a dizer sobre a vida presente e sobre a vida futura numa perspectiva escatológica em que “Deus será tudo em todos”, I Co 15.28. A escatologia não está fundada em predições mas em promessas de Deus. No Antigo Testamento, o Eterno Deus desce e toma parte no destino de seu povo, visando conduzi-lo à libertação no êxodo-schechinah e no exílio-schechinah. No Novo Testamento a teologia cristã do schechinah se traduz na presença de Deus em Jesus Cristo e no Espírito Santo que são respectivamente a promessa divina que se encarnou e a presença espiritual do Deus vindouro[5]. A ressurreição de Cristo é a promessa definitiva e universal de recriação de todas as coisas, II Co 1.120, Ap 21.5. Toda nova criação e ressurreição já começou com a ressurreição de Jesus. Quando Deus vem a nós através de Jesus: “Jesus vive e nós somos chamados com ele para fora de uma vida que conduz à morte e para dentro de uma vida verdadeira, uma vida nova, que supera a morte”[6]
A esperança num futuro alternativo nos coloca em atitude de oposição, tanto ao presente no qual estamos quanto às pessoas que se vêem atreladas a ele também. “O fundamento da esperança não é utopia ou investigação das possibilidades futuras, mas novo começo e o começo do novo aqui e agora”.[7] Ela nos mantém como seres insatisfeitos, inquietos e abertos até a chegada de Deus. Somente no horizonte escatológico de esperança o mundo manifesta-se como história.[8] O que Moltmann quer dizer é que já vivemos o futuro em Cristo numa atitude de esperança já construindo espaços de nova vida num mundo de morte e sofrimento, pois a vida eterna já começa em Cristo e em nós, vivendo assim uma vida autêntica que não aceita a situação presente no mundo. Mas tendo esperança num mundo futuro recriado poder Deus, já construímos espaços desse futuro nesta vida como sinais do mundo a ser recriado que será a plenificação do reino de Deus.[9]
Moltmann fala também do fim do cristianismo cultural, principalmente na Europa atual. Ele diz que o fim desse tipo de cristianismo conduz ao renascimento da igreja de comunidades voluntárias, autônomas, como a experiência da igreja confessante que contrariamente à igreja alemã, se opôs ao regime nazista. Sendo assim o novo estilo comunitário de igreja comunga com outros grupos comunitários de toda parte e se torna uma sociedade religiosa entre outras na sociedade moderna e se vê como uma comunidade com uma missão universal a todas as pessoas.[10] Em uma de suas palestras ele disse que a tão chamada pós-modernidade morreu no século XX. Hoje na Europa poucos falam em pós-modernismo, pois preferem falar em sociedade pós-secular por causa da religiosidade pluralista sem o cristianismo cultural.





































[1] Teologia da Esperança, Estudos sobre os fundamentos e as conseqüências de uma escatologia cristã, Ed. Teológica e Edições Loyola.
[2] Vida, Esperança e Justiça – Um Testamento Teológico para a América Latina, São Bernardo do Campo, Editeo, 2008.
[3] Idem, pg 25.
[4] Idem, pg 22.
[5] Idem, pg 30 e 31.
[6] Idem, pg 57.
[7] Idem pg 33.
[8] Idem, pg 32.
[9] Moltmann, Trindade e Reino de Deus, Editora Vozes, Petrópolis, 2000.
[10] Vida, Esperança e Justiça, pg 35.